sexta-feira, 11 de março de 2016

Eu até iria à manifestação se...

Eu até iria à manifestação convocada para o próximo domingo, 13 de março, se não soubesse quem realmente a está convocando...
Eu até iria a tal manifestação se não soubesse que interesses sórdidos estão por trás dela...
Eu poderia até me vestir de verde e amarelo e sair às ruas se fosse algo espontâneo, legitimamente popular, sem a sombra dos que almejam entregar nossas riquezas às grandes corporações multinacionais e que se escondem na penumbra da ignorância de nossa burguesia...
Eu até me esforçaria para comparecer à manifestação se desconhecesse que a mesma mídia que estará dando cobertura aos protestos, com takes favoráveis em que aparecerão famílias do tipo ‘comercial de margarina’ sorrindo para as câmeras não fosse a mesma mídia que detonou os verdadeiros protestos ocorridos em Junho de 2013, comparando os manifestantes a hordas de vândalos...
Eu até toparia participar se não me embrulhasse o estômago ver participantes posando com os mesmos policiais que meteram o cassetete nos que protestaram para valer em manifestações legítimas desdenhadas pela grande mídia e pelas autoridades... O brilho dos olhos dos participantes desta é incompatível com a vermelhidão provocada pelo spray de pimenta de outras...
Talvez eu aparecesse por lá se me garantissem que em momento algum eu toparia com pregadores midiáticos que se levantam contra o atual governo pelo simples fato de não terem alguns de seus pedidos atendidos, dentre os quais, concessões de canais de TV, cargos públicos, leis que beneficiam sua própria classe, etc. Se não me deparasse com teólogos fundamentalistas de plantão destilando seu veneno para apoiar o golpe, destorcendo o livro sagrado a seu bel-prazer para impor sua agenda moralista sobre um estado laico...Definitivamente, não tenho vocação para ser massa de manobra e nenhum líder religioso tem procuração para pensar em meu lugar. O escudo da minha fé não vem com a estampa do Capitão América...
Eu seria visto por lá se concordasse com uma tentativa de golpe para derrubar um governo que mal ou bem foi eleito por voto popular...
Se concordasse que a alternativa ao atual modelo fosse uma intervenção militar... Lembrando que, se ainda vivêssemos sob a égide da ditadura dos milicos, manifestações como esta seriam coibidas...
Se me convencessem de que a corrupção só surgiu no país a partir do atual governo e que membros de partidos da oposição também não foram indiciados na operação lava-jato...
Se o lugar escolhido para a manifestação não fosse um cartão postal que servirá de cenário para a aglutinação de uma maioria branca, pertencente à classe média, usando a mesma camisa que usaram nos jogos da Copa depois de pagaram por ingressos caríssimos para assisti-los nos estádios construídos pela atual administração...
Eu até acreditaria do patriotismo de toda esta gente não fosse o fato de que muitos que vociferam contra a corrupção não fossem os mesmos a sonegar impostos ao entrarem no país sem declarar o que compraram em sua viagem a Miami...
Eu me proporia a fazer coro com a grande turba vestida de verde e amarelo se não tivesse a consciência de que o Brasil corre o risco de dar uma guinada à direita que resultaria no abandono de programas governamentais que contemplam os mais necessitados e que são responsáveis pela inserção de 36 milhões oriundas das classes mais baixas na classe média.
Se não corresse o risco de ouvir de cima de um trio elétrico o pronunciamento de algum político racista, homofóbico, xenófobo, que aproveita do momento para seduzir o coração de um povo ávido de esperança.
Eu até me atreveria a comparecer a tal marcha, se não desconfiasse da possibilidade de que indivíduos fossem pagos para se infiltrar no meio da multidão, portando bandeiras vermelhas para tocar baderna, criar tumulto, e assim, fomentar a hostilidade contra partidos da base do governo... Já vi este filme antes...
Sinceramente, eu ficaria muito constrangido de ser flagrado marchando ao lado de neonazistas, de defensores da intervenção militar, de gente que prega o ódio aos gays, negros, nordestinos, imigrantes, etc.
Reconheço a legitimidade do direito de sair às ruas, mas não reconheço a legitimidade da motivação por trás da manifestação que se pretende no próximo domingo. Se é democrática como se diz, então, qualquer um poderia ir vestido como quisesse, inclusive de camiseta vermelha, sem ser hostilizado.
Se eu tiver que marchar, não será pela família tradicional, mas pela família humana. Não será contra um partido, mas contra a corrupção cuja metástase já comprometeu todo o tecido político e social deste país. Não será ao lado de Bolsonaros, Cunhas, Aécios, Felicianos e Malafaias, mas ao lado de quem se inspira em Luther King, Bonhoffer, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Mandela, Papa Francisco e, sobretudo, em Jesus Cristo, o maior pacifista de todos os tempos. Bem que Jesus disse, "onde estiver a carniça, os abutres se ajuntarão." Se quiser julgar uma causa, verifique quem ela é capaz de atrair.
Por Hermes C. Fernandes

eu, Angela Natel, assino embaixo.

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Eu até iria à manifestação se...

Eu até iria à manifestação convocada para o próximo domingo, 13 de março, se não soubesse quem realmente a está convocando...
Eu até iria a tal manifestação se não soubesse que interesses sórdidos estão por trás dela...
Eu poderia até me vestir de verde e amarelo e sair às ruas se fosse algo espontâneo, legitimamente popular, sem a sombra dos que almejam entregar nossas riquezas às grandes corporações multinacionais e que se escondem na penumbra da ignorância de nossa burguesia...
Eu até me esforçaria para comparecer à manifestação se desconhecesse que a mesma mídia que estará dando cobertura aos protestos, com takes favoráveis em que aparecerão famílias do tipo ‘comercial de margarina’ sorrindo para as câmeras não fosse a mesma mídia que detonou os verdadeiros protestos ocorridos em Junho de 2013, comparando os manifestantes a hordas de vândalos...
Eu até toparia participar se não me embrulhasse o estômago ver participantes posando com os mesmos policiais que meteram o cassetete nos que protestaram para valer em manifestações legítimas desdenhadas pela grande mídia e pelas autoridades... O brilho dos olhos dos participantes desta é incompatível com a vermelhidão provocada pelo spray de pimenta de outras...
Talvez eu aparecesse por lá se me garantissem que em momento algum eu toparia com pregadores midiáticos que se levantam contra o atual governo pelo simples fato de não terem alguns de seus pedidos atendidos, dentre os quais, concessões de canais de TV, cargos públicos, leis que beneficiam sua própria classe, etc. Se não me deparasse com teólogos fundamentalistas de plantão destilando seu veneno para apoiar o golpe, destorcendo o livro sagrado a seu bel-prazer para impor sua agenda moralista sobre um estado laico...Definitivamente, não tenho vocação para ser massa de manobra e nenhum líder religioso tem procuração para pensar em meu lugar. O escudo da minha fé não vem com a estampa do Capitão América...
Eu seria visto por lá se concordasse com uma tentativa de golpe para derrubar um governo que mal ou bem foi eleito por voto popular...
Se concordasse que a alternativa ao atual modelo fosse uma intervenção militar... Lembrando que, se ainda vivêssemos sob a égide da ditadura dos milicos, manifestações como esta seriam coibidas...
Se me convencessem de que a corrupção só surgiu no país a partir do atual governo e que membros de partidos da oposição também não foram indiciados na operação lava-jato...
Se o lugar escolhido para a manifestação não fosse um cartão postal que servirá de cenário para a aglutinação de uma maioria branca, pertencente à classe média, usando a mesma camisa que usaram nos jogos da Copa depois de pagaram por ingressos caríssimos para assisti-los nos estádios construídos pela atual administração...
Eu até acreditaria do patriotismo de toda esta gente não fosse o fato de que muitos que vociferam contra a corrupção não fossem os mesmos a sonegar impostos ao entrarem no país sem declarar o que compraram em sua viagem a Miami...
Eu me proporia a fazer coro com a grande turba vestida de verde e amarelo se não tivesse a consciência de que o Brasil corre o risco de dar uma guinada à direita que resultaria no abandono de programas governamentais que contemplam os mais necessitados e que são responsáveis pela inserção de 36 milhões oriundas das classes mais baixas na classe média.
Se não corresse o risco de ouvir de cima de um trio elétrico o pronunciamento de algum político racista, homofóbico, xenófobo, que aproveita do momento para seduzir o coração de um povo ávido de esperança.
Eu até me atreveria a comparecer a tal marcha, se não desconfiasse da possibilidade de que indivíduos fossem pagos para se infiltrar no meio da multidão, portando bandeiras vermelhas para tocar baderna, criar tumulto, e assim, fomentar a hostilidade contra partidos da base do governo... Já vi este filme antes...
Sinceramente, eu ficaria muito constrangido de ser flagrado marchando ao lado de neonazistas, de defensores da intervenção militar, de gente que prega o ódio aos gays, negros, nordestinos, imigrantes, etc.
Reconheço a legitimidade do direito de sair às ruas, mas não reconheço a legitimidade da motivação por trás da manifestação que se pretende no próximo domingo. Se é democrática como se diz, então, qualquer um poderia ir vestido como quisesse, inclusive de camiseta vermelha, sem ser hostilizado.
Se eu tiver que marchar, não será pela família tradicional, mas pela família humana. Não será contra um partido, mas contra a corrupção cuja metástase já comprometeu todo o tecido político e social deste país. Não será ao lado de Bolsonaros, Cunhas, Aécios, Felicianos e Malafaias, mas ao lado de quem se inspira em Luther King, Bonhoffer, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Mandela, Papa Francisco e, sobretudo, em Jesus Cristo, o maior pacifista de todos os tempos. Bem que Jesus disse, "onde estiver a carniça, os abutres se ajuntarão." Se quiser julgar uma causa, verifique quem ela é capaz de atrair.
Por Hermes C. Fernandes

eu, Angela Natel, assino embaixo.