domingo, 29 de março de 2015

O álbum 'Rebel Heart' (Madonna) revela a trajetória sem igual de uma mulher


'Rebel Heart' mostra uma Madonna vulnerável, porém ainda estrategista
O 13º álbum de estúdio da cantora, lançado no dia 13 de março no Brasil, tem 25 faixas em sua versão mais luxuosa e traz letras que misturam baladas e batidas para as pistas. Para entendê-lo, é preciso relembrar a trajetória de Madonna .
Pode perguntar para qualquer jornalista de entretenimento. Se tem alguém que parece inatingível no mundo das celebridades, esse alguém é Madonna. Com seus mais de 30 e poucos anos de carreira, a cantora conseguiu um feito inédito na indústria fonográfica: manter-se relevante midiaticamente dentro de uma cultura pop cada vez mais descartável e inconstante.
Podemos citar outros exemplos parecidos, como o de Paul McCartney ou do grupo Rolling Stones, mas nenhum dos dois tem tantas aparições na mídia quanto ela nos dias atuais. É óbvio que a importância musical do ex-Beatle, se sobressai à de Madonna, que nunca foi uma cantora de tons admiráveis. Contra ela, também temos uma infinidade de mulheres vocalmente poderosas, como Barbra Streisand e até Lady Gaga. Mas a colaboração de Madonna para a atual configuração da cultura pop - e até das extensões dela - é inegável.
Basta olhar para a linha do tempo que permeia sua carreira. Nos anos 1980, com discos como True Blue e Like a Virgin, ela colocou o feminismo em voga e ajudou a romper com o conceito da mulher indefesa. Papa Don´t Preach, sobre uma jovem garota que resolve manter um filho de uma gravidez indesejada é só um dos hinos feministas que a cantora proclamou na década de 1980 - e que hoje são tão constantes nas vozes de Taylor Swift, Miley Cyrus e Beyoncé. Em Express Yourself, ela chama os homens para o combate, e pede para que as mulheres não sejam submissas: "Você não precisa de anéis de diamantes/ O que você precisa é de uma mão grande e forte para levantá-la para o lugar mais alto/ Fazer você se sentir como uma rainha do trono", provocava.
Nos anos 1990, foi massacrada pela crítica com o disco Erotica, ao desafiar a moral cristã e encarar o alter-ego de Dita Parlo, uma dominatrix em busca de seu próprio prazer, sem medo de ser taxada de vadia. Ainda na década, tirou do armário a AIDS ao citá-la em canções como In This Life, em que dizia: "As pessoas se vão e eu imagino quem será o próximo. Há uma lição que eu devo aprender neste caso? A ignorância não é uma resposta!". Nos palcos, colocou homens com homens e mulheres com mulheres em insinuações sexuais, ajudou a divulgar o conceito de show "Broadway", hoje padrão entre as estrelas do pop, e trouxe à tona assuntos que, salvo raras exceções pouco relevantes, nenhum artista de peso gostava de falar, como a transexualidade, a fome na África, os conflitos políticos internacionais, fez duras críticas ao partido republicano dos Estados Unidos... A lista é imensa!
Musicalmente, a melhor safra de Madonna foi entre o final dos anos 1990 e o meio dos anos 2000: Ray of Light (1998), Music (2000), American Life (2003) e Confessions on a Dance Floor (2005) são todos discos temáticos, bem trabalhados e repletos de hits que ficaram ainda melhores nos palcos.
De uns anos pra cá, no entanto, o status de "rainha" que a cantora adquiriu parece ter subido à cabeça. Com os descartáveis discos Hard Candy (2008), um flerte tardio com o hip hop de Timbaland e uma tentativa frustrada de parceria com Justin Timberlake, e MDNA (2012), Madonna investia em canções penosas, com letras bobas e que muitas vezes soavam esquizofrênicas na voz de uma mulher na fase dos 50 anos com uma carreira dessa proporção nas costas.
Desse primeiro disco, temos She´s Not Me, música em que ela provoca suas concorrentes como se tivesse preocupada em ser destronada. De seu último trabalho, Give Me All Your Luvin é um ode a sua imagem (Não jogue esse jogo estúpido porque sou um tipo diferente de garota/Todos os discos soam iguais, você tem que entrar no meu mundo), e Girl Gone Wild, parece uma daquelas canções cantadas por garotas recém-saídas da adolescência autorizadas a tomar um porre pela primeira vez na vida (Sinto aquele escaldante desejo/Ninguém consegue apagar meu fogo.../Quando escuto a batida me dá vontade de cantar como uma garota selvagem).
Mesmo com bons momentos colecionados em suas duas mais recentes turnês mundiais, Sticky & Sweet (2008), e MDNA Tour (2012), a atual Madonna parecia cansada e, mesmo super relevante, bateu demais na tecla de rainha incontestável, algo que foi realçado com seus shows megalomaníacos (por vezes constrangedores), cheios de efeitos e dançarinos, talvez para mostrar que é mesmo impossível alcançar seu status.
Com vista nessa trajetória, Rebel Heart, seu mais novo disco de estúdio lançado esse mês no Brasil, soa inovador. Nele, Madonna finalmente deixa o seu trono para mostrar que pode, sim, ser vulnerável. Em Joan of Arc, ela canta como está frágil (Eu não posso ser uma super-heroína agora/Até corações feitos de aço podem quebrar), Heartbreak City mostra que também já foi usada ('Você conseguiu o que queria/ Um pouco de fama e fortuna e eu não sou mais necessária') e em Devil Pray cita suas traumáticas experiências com drogas (Podemos correr e podemos nos esconder/Mas não vamos encontrar as respostas).
É claro que a arrogância e a lembrança de seu lado polêmico também aparecem, mas desta vez, elas chegam com um lance súbito de sinceridade. "Há uma outra parte de você que ninguém vê/ Um fogo ardente que vem de baixo/Querido, você não sabe que nasceu para ser icônico?", questiona, talvez para ela mesma, na canção Iconic, com participações de Mike Tyson (?!) e Chance The Rapper.
Também não é de hoje que Madonna vem reclamando do preconceito que sofre por conta da idade. A queda durante a apresentação no Brit Awards em fevereiro deste ano, quando foi puxada por duas dançarinas por conta de uma capa que não se desamarrou de seu pescoço, realçou esse momento. Na internet, teve gente que a chamou de velha. Falaram de osteoporose, de cair e não conseguir levar, a chamaram de puta, de sem vergonha na cara. Um show de horrores.
E como se previsse o futuro, canções como Wash All Over Me mostram que, talvez, alguma hora ela ceda, embora não queira: "Quem sou eu para decidir o que deve ser feito? Se este é o fim, então que venha", lança na balada. Já em Queen, que na verdade fala sobre as doenças crônicas da humanidade, fica difícil não adotar o paralelo com o momento atual de sua carreira na visão de muitos de seus inimigos: "A rainha está sendo caçada, ela nunca governará novamente", diz a letra.
O lado sexual tão marcante de sua personalidade aparece nas letras de Holy Water, que fala sobre sexo oral (Beije-a melhor/Deixe-a mais molhada/Lá embaixo não tem gosto de água benta) e S.E.X., um Erotica 2 (Quando você ler a minha mente, descer e me descobrir/ Eu sou uma porta aberta e eu vou deixar você entrar de mim).
Rebel Heart, a faixa-tema do disco, que curiosamente só aparece na versão de luxo do CD, aborda sua trajetória rumo ao estrelato. "Eu vivi minha vida como uma masoquista. Ouvindo meu pai dizer: 'Eu lhe avisei, avisei'. 'Por que você não pode ser como as outras meninas?'", canta, sem deixar de abordar as dificuldades que passou (Eu peguei a estrada que ninguém pegava/E por pouco saí dela viva/ Um amor difícil, eu sabia desde o início nas profundezas do meu coração rebelde).
Tantas fraquezas expostas num único trabalho de Madonna (que chega a ter 25 músicas na versão mais luxuosa do álbum) poderiam ser o recado de que ela finalmente está aberta a ser substituída. Não é sempre que vemos uma figura tão inatingível e popular se abrir com seu público de forma tão brutal.
Daí surge o aspecto interessante de todo esse falatório: o disco é produzido por grandes nomes atuais da indústria fonográfica, como os produtores Diplo (conhecido por levar o funk carioca para o mundo e ser a cabeça de canções de sucesso de Britney Spears e M.I.A), Toby Gad (dos hits If I Were a Girl, de Beyoncé, e Big Girls Don´t Cry, de Fergie) e até Kanye West. O grande diferencial de Rebel Heart é que, mesmo trabalhando com gigantes da moda, Madonna conseguiu colocar sua marca nas faixas (ela assina, junto com outros compositores, a letra de todas as 25 músicas) e evitou cair no caminho fácil dos hits óbvios e chiclete das rádios - talvez por isso, Living for Love, o primeiro deles, não conseguiu chegar ao top 100 da Billboard.
Mas a ação promocional do disco corre o caminho oposto dessa fase low profile de luxo. Além de se apresentar no Grammy e Brit Awards (mais duas premiações estão programadas), Madonna foi em outros seis programas de TV pelo mundo cantar suas canções, inclusive como a convidada de honra por uma semana no popular The Ellen Degeneres Show, dos Estados Unidos. Ficou disponível, num feito inédito, para diversos veículos de imprensa disposta a dar entrevistas sobre qualquer assunto. Protagonizou um controverso vazamento de suas demos e prendeu os culpados, mas não fez nada para tirá-las do ar cerca de dois meses antes do lançamento oficial - indo parar nos trending topics das redes sociais por diversos dias.
É curioso também que, pela primeira vez, uma popstar desse tamanho resolveu lançar um clipe via SnapChat, um aplicativo para smartphones que promete ganhar 60 milhões de usuários até o final de 2016, ignorando o caminho fácil do magnata YouTube. Uma prova de que Madonna, mesmo quando abre seu coração, sabe que ainda vai continuar provocando e incomodando quem tenta alcançá-la, trabalhando à frente de seu tempo. A prova é que o disco estreou em primeiro lugar no mundo todo, com um total de 315 mil cópias, e sua turnê já tem datas adicionais devido à alta procura. É aí que dá pra entender a letra mais destoante do disco, Bitch I'm Madonna: "Quem você pensa que é?", grita ela na psicodélica faixa. Talvez seja um recado para todas as outras.

https://www.facebook.com/neto.arrais.7

Nenhum comentário:

O álbum 'Rebel Heart' (Madonna) revela a trajetória sem igual de uma mulher


'Rebel Heart' mostra uma Madonna vulnerável, porém ainda estrategista
O 13º álbum de estúdio da cantora, lançado no dia 13 de março no Brasil, tem 25 faixas em sua versão mais luxuosa e traz letras que misturam baladas e batidas para as pistas. Para entendê-lo, é preciso relembrar a trajetória de Madonna .
Pode perguntar para qualquer jornalista de entretenimento. Se tem alguém que parece inatingível no mundo das celebridades, esse alguém é Madonna. Com seus mais de 30 e poucos anos de carreira, a cantora conseguiu um feito inédito na indústria fonográfica: manter-se relevante midiaticamente dentro de uma cultura pop cada vez mais descartável e inconstante.
Podemos citar outros exemplos parecidos, como o de Paul McCartney ou do grupo Rolling Stones, mas nenhum dos dois tem tantas aparições na mídia quanto ela nos dias atuais. É óbvio que a importância musical do ex-Beatle, se sobressai à de Madonna, que nunca foi uma cantora de tons admiráveis. Contra ela, também temos uma infinidade de mulheres vocalmente poderosas, como Barbra Streisand e até Lady Gaga. Mas a colaboração de Madonna para a atual configuração da cultura pop - e até das extensões dela - é inegável.
Basta olhar para a linha do tempo que permeia sua carreira. Nos anos 1980, com discos como True Blue e Like a Virgin, ela colocou o feminismo em voga e ajudou a romper com o conceito da mulher indefesa. Papa Don´t Preach, sobre uma jovem garota que resolve manter um filho de uma gravidez indesejada é só um dos hinos feministas que a cantora proclamou na década de 1980 - e que hoje são tão constantes nas vozes de Taylor Swift, Miley Cyrus e Beyoncé. Em Express Yourself, ela chama os homens para o combate, e pede para que as mulheres não sejam submissas: "Você não precisa de anéis de diamantes/ O que você precisa é de uma mão grande e forte para levantá-la para o lugar mais alto/ Fazer você se sentir como uma rainha do trono", provocava.
Nos anos 1990, foi massacrada pela crítica com o disco Erotica, ao desafiar a moral cristã e encarar o alter-ego de Dita Parlo, uma dominatrix em busca de seu próprio prazer, sem medo de ser taxada de vadia. Ainda na década, tirou do armário a AIDS ao citá-la em canções como In This Life, em que dizia: "As pessoas se vão e eu imagino quem será o próximo. Há uma lição que eu devo aprender neste caso? A ignorância não é uma resposta!". Nos palcos, colocou homens com homens e mulheres com mulheres em insinuações sexuais, ajudou a divulgar o conceito de show "Broadway", hoje padrão entre as estrelas do pop, e trouxe à tona assuntos que, salvo raras exceções pouco relevantes, nenhum artista de peso gostava de falar, como a transexualidade, a fome na África, os conflitos políticos internacionais, fez duras críticas ao partido republicano dos Estados Unidos... A lista é imensa!
Musicalmente, a melhor safra de Madonna foi entre o final dos anos 1990 e o meio dos anos 2000: Ray of Light (1998), Music (2000), American Life (2003) e Confessions on a Dance Floor (2005) são todos discos temáticos, bem trabalhados e repletos de hits que ficaram ainda melhores nos palcos.
De uns anos pra cá, no entanto, o status de "rainha" que a cantora adquiriu parece ter subido à cabeça. Com os descartáveis discos Hard Candy (2008), um flerte tardio com o hip hop de Timbaland e uma tentativa frustrada de parceria com Justin Timberlake, e MDNA (2012), Madonna investia em canções penosas, com letras bobas e que muitas vezes soavam esquizofrênicas na voz de uma mulher na fase dos 50 anos com uma carreira dessa proporção nas costas.
Desse primeiro disco, temos She´s Not Me, música em que ela provoca suas concorrentes como se tivesse preocupada em ser destronada. De seu último trabalho, Give Me All Your Luvin é um ode a sua imagem (Não jogue esse jogo estúpido porque sou um tipo diferente de garota/Todos os discos soam iguais, você tem que entrar no meu mundo), e Girl Gone Wild, parece uma daquelas canções cantadas por garotas recém-saídas da adolescência autorizadas a tomar um porre pela primeira vez na vida (Sinto aquele escaldante desejo/Ninguém consegue apagar meu fogo.../Quando escuto a batida me dá vontade de cantar como uma garota selvagem).
Mesmo com bons momentos colecionados em suas duas mais recentes turnês mundiais, Sticky & Sweet (2008), e MDNA Tour (2012), a atual Madonna parecia cansada e, mesmo super relevante, bateu demais na tecla de rainha incontestável, algo que foi realçado com seus shows megalomaníacos (por vezes constrangedores), cheios de efeitos e dançarinos, talvez para mostrar que é mesmo impossível alcançar seu status.
Com vista nessa trajetória, Rebel Heart, seu mais novo disco de estúdio lançado esse mês no Brasil, soa inovador. Nele, Madonna finalmente deixa o seu trono para mostrar que pode, sim, ser vulnerável. Em Joan of Arc, ela canta como está frágil (Eu não posso ser uma super-heroína agora/Até corações feitos de aço podem quebrar), Heartbreak City mostra que também já foi usada ('Você conseguiu o que queria/ Um pouco de fama e fortuna e eu não sou mais necessária') e em Devil Pray cita suas traumáticas experiências com drogas (Podemos correr e podemos nos esconder/Mas não vamos encontrar as respostas).
É claro que a arrogância e a lembrança de seu lado polêmico também aparecem, mas desta vez, elas chegam com um lance súbito de sinceridade. "Há uma outra parte de você que ninguém vê/ Um fogo ardente que vem de baixo/Querido, você não sabe que nasceu para ser icônico?", questiona, talvez para ela mesma, na canção Iconic, com participações de Mike Tyson (?!) e Chance The Rapper.
Também não é de hoje que Madonna vem reclamando do preconceito que sofre por conta da idade. A queda durante a apresentação no Brit Awards em fevereiro deste ano, quando foi puxada por duas dançarinas por conta de uma capa que não se desamarrou de seu pescoço, realçou esse momento. Na internet, teve gente que a chamou de velha. Falaram de osteoporose, de cair e não conseguir levar, a chamaram de puta, de sem vergonha na cara. Um show de horrores.
E como se previsse o futuro, canções como Wash All Over Me mostram que, talvez, alguma hora ela ceda, embora não queira: "Quem sou eu para decidir o que deve ser feito? Se este é o fim, então que venha", lança na balada. Já em Queen, que na verdade fala sobre as doenças crônicas da humanidade, fica difícil não adotar o paralelo com o momento atual de sua carreira na visão de muitos de seus inimigos: "A rainha está sendo caçada, ela nunca governará novamente", diz a letra.
O lado sexual tão marcante de sua personalidade aparece nas letras de Holy Water, que fala sobre sexo oral (Beije-a melhor/Deixe-a mais molhada/Lá embaixo não tem gosto de água benta) e S.E.X., um Erotica 2 (Quando você ler a minha mente, descer e me descobrir/ Eu sou uma porta aberta e eu vou deixar você entrar de mim).
Rebel Heart, a faixa-tema do disco, que curiosamente só aparece na versão de luxo do CD, aborda sua trajetória rumo ao estrelato. "Eu vivi minha vida como uma masoquista. Ouvindo meu pai dizer: 'Eu lhe avisei, avisei'. 'Por que você não pode ser como as outras meninas?'", canta, sem deixar de abordar as dificuldades que passou (Eu peguei a estrada que ninguém pegava/E por pouco saí dela viva/ Um amor difícil, eu sabia desde o início nas profundezas do meu coração rebelde).
Tantas fraquezas expostas num único trabalho de Madonna (que chega a ter 25 músicas na versão mais luxuosa do álbum) poderiam ser o recado de que ela finalmente está aberta a ser substituída. Não é sempre que vemos uma figura tão inatingível e popular se abrir com seu público de forma tão brutal.
Daí surge o aspecto interessante de todo esse falatório: o disco é produzido por grandes nomes atuais da indústria fonográfica, como os produtores Diplo (conhecido por levar o funk carioca para o mundo e ser a cabeça de canções de sucesso de Britney Spears e M.I.A), Toby Gad (dos hits If I Were a Girl, de Beyoncé, e Big Girls Don´t Cry, de Fergie) e até Kanye West. O grande diferencial de Rebel Heart é que, mesmo trabalhando com gigantes da moda, Madonna conseguiu colocar sua marca nas faixas (ela assina, junto com outros compositores, a letra de todas as 25 músicas) e evitou cair no caminho fácil dos hits óbvios e chiclete das rádios - talvez por isso, Living for Love, o primeiro deles, não conseguiu chegar ao top 100 da Billboard.
Mas a ação promocional do disco corre o caminho oposto dessa fase low profile de luxo. Além de se apresentar no Grammy e Brit Awards (mais duas premiações estão programadas), Madonna foi em outros seis programas de TV pelo mundo cantar suas canções, inclusive como a convidada de honra por uma semana no popular The Ellen Degeneres Show, dos Estados Unidos. Ficou disponível, num feito inédito, para diversos veículos de imprensa disposta a dar entrevistas sobre qualquer assunto. Protagonizou um controverso vazamento de suas demos e prendeu os culpados, mas não fez nada para tirá-las do ar cerca de dois meses antes do lançamento oficial - indo parar nos trending topics das redes sociais por diversos dias.
É curioso também que, pela primeira vez, uma popstar desse tamanho resolveu lançar um clipe via SnapChat, um aplicativo para smartphones que promete ganhar 60 milhões de usuários até o final de 2016, ignorando o caminho fácil do magnata YouTube. Uma prova de que Madonna, mesmo quando abre seu coração, sabe que ainda vai continuar provocando e incomodando quem tenta alcançá-la, trabalhando à frente de seu tempo. A prova é que o disco estreou em primeiro lugar no mundo todo, com um total de 315 mil cópias, e sua turnê já tem datas adicionais devido à alta procura. É aí que dá pra entender a letra mais destoante do disco, Bitch I'm Madonna: "Quem você pensa que é?", grita ela na psicodélica faixa. Talvez seja um recado para todas as outras.

https://www.facebook.com/neto.arrais.7