sexta-feira, 2 de maio de 2014

Crônicas de uma divorciada: 4. 'O diabo que te carregue'


Crônicas de uma divorciada
Angela Natel
4. “O diabo que te carregue”

            Muita calma nesta hora. Não se trata de mais um desabafo pessimista. Uma ideia surge e a gente põe no papel, e o melhor título que lhe vem à cabeça é... você entende.
            O assunto de hoje é necessidade de incentivo ou parasitismo. Andei pensando um pouco a respeito do processo de reconstrução a que estamos sujeitos constantemente nesta vida: reconstrução de sonhos, de nossa personalidade, superação de perdas, desafios postos à nossa frente, vontades que se constroem na medida em que nos permitimos sonhar um pouco mais alto do que de costume. Tais processos às vezes se assemelham a buracos cavados em nossas emoções, cujos vazios gritam por algum tipo de socorro. Sentimos falta de pessoas, de ajuda, de orientação, incentivo, patrocínio, qualquer mão amiga que se estenda em nossa direção para que essas montanhas sejam efetivamente transpostas.
            Assim me senti há alguns anos atrás, assim me sinto às vezes. Mas percebo que na maioria das situações o que espero não se resume a um incentivo, uma palavra amiga ou encorajamento, o que realmente minha alma deseja é que me carreguem até a outra margem e façam o serviço por mim ou, de algum jeito, patrocinem meus sonhos, me peguem pela mão e ditem passo a passo do trajeto, dando-me uma falsa sensação de segurança durante todo o percurso, isentando-me de grande parte da responsabilidade pelas minhas próprias decisões, ou até mesmo abrindo espaço para que eu possa dizer, no final das contas, caso a realização não aconteça: ‘não era a vontade de Deus’, ou ‘se for para não fazer bem feito, prefiro não fazer’ – pura desculpa deslavada para minha procrastinação.
            O que penso ser uma luta pessoal aparece como um padrão na vida de muitas pessoas, cujos sonhos são depositados na prateleira do ‘um dia quero fazer’ mas nunca chegam a alcançar a não ser que alguém tome as rédeas da situação e faça acontecer para elas, quase que obrigando a pessoa a se mexer, forçando-a a conquistar os próprios sonhos – louco, mas existe gente assim. Caso contrário, parece que nunca sairão do estado de letargia e ficam à espera de um ‘sinal dos céus’ (que, miraculosamente aparece quando alguém paga para ver). Resumindo o recado para estes: o céu conspira a favor de quem trabalha na conquista de seus sonhos.
            Há também os que possuem uma responsabilidade, que afirmam em alto e bom som de sua ciência da situação, mas sua postura fala exatamente o contrário de suas palavras, porque fazem tamanha a situação que o fato de afirmarem que são responsáveis por si mesmos não parece ter resultado algum já que intimidam pela simples maneira de lidar com as coisas, constrangendo a todos ao redor, como se os outros tivessem a obrigação de fazer algo por eles. E mesmo que repitam que não são vítimas, agem como tal, então fica complicado ajudar bem como não ajudar, comprometendo a relação.
            Por diversas vezes me vi e me senti carregada. Sei que já fui dramática, sarcástica, apática e ingrata. Já agi irresponsavelmente, já fui incoerente e extremamente carente. Mas certamente quem já me disse, mesmo que em pensamento ‘o diabo que te carregue’, não deixou de ter razão. Às vezes precisamos aprender a andar com as próprias pernas, nos sentirmos abandonados para que isso seja a motivação que necessitamos ao nos levantarmos de uma desilusão, para alcançarmos um sonho, ou conquistarmos o intransponível mar de desafios à nossa frente.
            Por isso, ao invés de recriminar quem nos vira as costas por um momento, ao invés de esperar que alguém nos carregue ou nos arraste para a conquista de uma vontade, um sonho, que nos levantemos sobre nossas próprias pernas e andemos em direção ao alvo, sem hesitação. Quer alcançar um sonho, levante-se e ande na direção certa para realizá-lo, sem esperar que alguém lhe dê uma palavra, um presente, um incentivo, sem depender da ação, gesto ou dizer de quem quer que seja. Não são os outros que fazem as coisas acontecerem em nossa vida, definitivamente.                                                
            E, ao invés de nos lamentar e tornar a situação maior do que ela já é, tomemos as rédeas de nossa vida, planejando, trabalhando, construindo, dia após dia, em parceria, não parasitismo, não à espera de que alguém aja em nosso favor, mas agindo, conscientes de que cada um tem seus próprios desafios, e que ninguém é obrigado a nos carregar (prá isso não basta só falar, é preciso agir e nisso verdadeiramente acreditar).
            Se há algo que sempre prezei em minha vida é poder ajudar as pessoas, mas o que não desejo a ninguém é ter de carregar nas costas responsabilidades que não me pertencem. Se alguém tem um sonho, não espere que eu leve a realizá-lo, não dependa de minhas palavras, nem de meu incentivo para conquistá-lo. Se alguém tem um desafio, não espere que sempre poderei ajudá-lo, porque também tenho os meus, e somos corresponsáveis na construção de nossa história. Não levemos a mal quando alguém nos disser ‘o diabo que te carregue’, pois se esperamos ser carregados, creio ser ele o único pronto a fazê-lo, para nossa própria destruição. Só crescemos quando assumimos responsabilidade, quando agimos de verdade, quando nos levantamos com decisão.
            E o desafio que me faço nesse dia, e estendo a todo o que desejar, é olhar a lista de coisas que desejamos conquistar, os passos que queremos tomar, as montanhas que precisamos escalar e os mares que devemos atravessar e nos coloquemos em movimento, sem esperar nada de ninguém: nem palavra, nem incentivo, nem patrocínio, nem que nos peguem pela mão, nem sequer orientação, mas busquemos descobrir por nós mesmos os passos e andemos na direção das conquistas que queremos. Deus nos dê forças e nos ajude nessa conquista, para que o diabo não tenha de nos carregar pelos braços dos outros.

Angela Natel – maio de 2014.

http://angelanatel.wordpress.com/2014/05/02/cronicas-de-uma-divorciada-4-o-diabo-que-te-carregue/

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Crônicas de uma divorciada: 4. 'O diabo que te carregue'


Crônicas de uma divorciada
Angela Natel
4. “O diabo que te carregue”

            Muita calma nesta hora. Não se trata de mais um desabafo pessimista. Uma ideia surge e a gente põe no papel, e o melhor título que lhe vem à cabeça é... você entende.
            O assunto de hoje é necessidade de incentivo ou parasitismo. Andei pensando um pouco a respeito do processo de reconstrução a que estamos sujeitos constantemente nesta vida: reconstrução de sonhos, de nossa personalidade, superação de perdas, desafios postos à nossa frente, vontades que se constroem na medida em que nos permitimos sonhar um pouco mais alto do que de costume. Tais processos às vezes se assemelham a buracos cavados em nossas emoções, cujos vazios gritam por algum tipo de socorro. Sentimos falta de pessoas, de ajuda, de orientação, incentivo, patrocínio, qualquer mão amiga que se estenda em nossa direção para que essas montanhas sejam efetivamente transpostas.
            Assim me senti há alguns anos atrás, assim me sinto às vezes. Mas percebo que na maioria das situações o que espero não se resume a um incentivo, uma palavra amiga ou encorajamento, o que realmente minha alma deseja é que me carreguem até a outra margem e façam o serviço por mim ou, de algum jeito, patrocinem meus sonhos, me peguem pela mão e ditem passo a passo do trajeto, dando-me uma falsa sensação de segurança durante todo o percurso, isentando-me de grande parte da responsabilidade pelas minhas próprias decisões, ou até mesmo abrindo espaço para que eu possa dizer, no final das contas, caso a realização não aconteça: ‘não era a vontade de Deus’, ou ‘se for para não fazer bem feito, prefiro não fazer’ – pura desculpa deslavada para minha procrastinação.
            O que penso ser uma luta pessoal aparece como um padrão na vida de muitas pessoas, cujos sonhos são depositados na prateleira do ‘um dia quero fazer’ mas nunca chegam a alcançar a não ser que alguém tome as rédeas da situação e faça acontecer para elas, quase que obrigando a pessoa a se mexer, forçando-a a conquistar os próprios sonhos – louco, mas existe gente assim. Caso contrário, parece que nunca sairão do estado de letargia e ficam à espera de um ‘sinal dos céus’ (que, miraculosamente aparece quando alguém paga para ver). Resumindo o recado para estes: o céu conspira a favor de quem trabalha na conquista de seus sonhos.
            Há também os que possuem uma responsabilidade, que afirmam em alto e bom som de sua ciência da situação, mas sua postura fala exatamente o contrário de suas palavras, porque fazem tamanha a situação que o fato de afirmarem que são responsáveis por si mesmos não parece ter resultado algum já que intimidam pela simples maneira de lidar com as coisas, constrangendo a todos ao redor, como se os outros tivessem a obrigação de fazer algo por eles. E mesmo que repitam que não são vítimas, agem como tal, então fica complicado ajudar bem como não ajudar, comprometendo a relação.
            Por diversas vezes me vi e me senti carregada. Sei que já fui dramática, sarcástica, apática e ingrata. Já agi irresponsavelmente, já fui incoerente e extremamente carente. Mas certamente quem já me disse, mesmo que em pensamento ‘o diabo que te carregue’, não deixou de ter razão. Às vezes precisamos aprender a andar com as próprias pernas, nos sentirmos abandonados para que isso seja a motivação que necessitamos ao nos levantarmos de uma desilusão, para alcançarmos um sonho, ou conquistarmos o intransponível mar de desafios à nossa frente.
            Por isso, ao invés de recriminar quem nos vira as costas por um momento, ao invés de esperar que alguém nos carregue ou nos arraste para a conquista de uma vontade, um sonho, que nos levantemos sobre nossas próprias pernas e andemos em direção ao alvo, sem hesitação. Quer alcançar um sonho, levante-se e ande na direção certa para realizá-lo, sem esperar que alguém lhe dê uma palavra, um presente, um incentivo, sem depender da ação, gesto ou dizer de quem quer que seja. Não são os outros que fazem as coisas acontecerem em nossa vida, definitivamente.                                                
            E, ao invés de nos lamentar e tornar a situação maior do que ela já é, tomemos as rédeas de nossa vida, planejando, trabalhando, construindo, dia após dia, em parceria, não parasitismo, não à espera de que alguém aja em nosso favor, mas agindo, conscientes de que cada um tem seus próprios desafios, e que ninguém é obrigado a nos carregar (prá isso não basta só falar, é preciso agir e nisso verdadeiramente acreditar).
            Se há algo que sempre prezei em minha vida é poder ajudar as pessoas, mas o que não desejo a ninguém é ter de carregar nas costas responsabilidades que não me pertencem. Se alguém tem um sonho, não espere que eu leve a realizá-lo, não dependa de minhas palavras, nem de meu incentivo para conquistá-lo. Se alguém tem um desafio, não espere que sempre poderei ajudá-lo, porque também tenho os meus, e somos corresponsáveis na construção de nossa história. Não levemos a mal quando alguém nos disser ‘o diabo que te carregue’, pois se esperamos ser carregados, creio ser ele o único pronto a fazê-lo, para nossa própria destruição. Só crescemos quando assumimos responsabilidade, quando agimos de verdade, quando nos levantamos com decisão.
            E o desafio que me faço nesse dia, e estendo a todo o que desejar, é olhar a lista de coisas que desejamos conquistar, os passos que queremos tomar, as montanhas que precisamos escalar e os mares que devemos atravessar e nos coloquemos em movimento, sem esperar nada de ninguém: nem palavra, nem incentivo, nem patrocínio, nem que nos peguem pela mão, nem sequer orientação, mas busquemos descobrir por nós mesmos os passos e andemos na direção das conquistas que queremos. Deus nos dê forças e nos ajude nessa conquista, para que o diabo não tenha de nos carregar pelos braços dos outros.

Angela Natel – maio de 2014.

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