segunda-feira, 9 de julho de 2012

Como fazer do seu filho um bom leitor


Dica de leitura para criar um filho sem frescuras
XICOSA, na Folha de S. Paulo

Agora vamos tratar do lado família da Flip, a festa literária de Paraty. É preocupação dos pais, leia-se mães, tornar seus filhos bons leitores.
Daí a importância de trazê-los para pegar, nem que seja por osmose, o gosto pelos livros.
Este cronista gutenberguiano, sempre preocupado com o futuro dos jornais e das edições impressas no geral, preparou um pequeno guia de iniciação dos jovens na leitura.
Atenção senhores pais:
Escola de machos – A simples iniciação via Hemingway assegura uma cota de testosterona até a madureza. Faz tão bem para o crescimento quanto Calcigenol ou óleo de fígado de bacalhau.
Vocês, pais e mestres, se orgulharão quando o pirralho sair por ai fisgando trutas, caçando pacas, tatus… mirando em rolas, codornas e juritis.
A importância de ler Wilde- A simples iniciação pelo inventor de Dorian Gray garante que o seu filho dê em um homem sensível. Sim, há o risco do metrossexualismo, mas vale a pena. O volume “O Fantasma de Canterville”, para meninos e meninas, é o indicado à guisa de debut.
Lição de anatomia – Moby Dick? Vai fazer muito bem. Seu filho crescerá generoso com as mulheres mais cheinhas, as botterinhas, e não cairá nessa fábula das passarelas e suas mulheres ossudas e magérrimas.
Piedade de nós – “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, jamais. Muito menos as choramingas populistas de Charles Dickens. Seus filhos crescerão com peninha da humanidade, capazes de fundar uma ONG a cada bairro, achando que a caridade seja remate de todos os males.
Campos & espaços – Mal sinal quando o pimpolho começa a trocar o legos pela poesia concreta, briquedinhos que se combinam. Não há mamadeira bilaquiana que dê jeito.
Vanguardeiros e malditos – São uns bossais estraga-homens. Mantenha-os fora do alcance das crianças. Eles estão para a literatura assim como os pipoqueiros que passam drogas _esses fabulosos sedutores!_ estão para as portas dos colégios.
Catecismo e primeira comunhão – Se Deus não existe, tudo é permitido. Quer segurar o capetinha nas rédeas morais possíveis, aí incluídas as algemas forjadas no aço da culpa? Karamazov nele, como quem dá remédio forçado.
O medo diante da loba- Quer estragar sua filha querida e a vida dos futuros genros? Libere Clarice Lispector logo na pré-adolescência. Aí teremos moças misteriosas, labirínticas, metalingüísticas, uns diabos arredias e estranhas diante do amor. Capazes de tudo: TPMs elípticas, menstruações de incomunicabilidades sem fim, coitados desses futuros maridos que terão que aguentá-las.

Dica do Chicco Sal

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Como fazer do seu filho um bom leitor


Dica de leitura para criar um filho sem frescuras
XICOSA, na Folha de S. Paulo

Agora vamos tratar do lado família da Flip, a festa literária de Paraty. É preocupação dos pais, leia-se mães, tornar seus filhos bons leitores.
Daí a importância de trazê-los para pegar, nem que seja por osmose, o gosto pelos livros.
Este cronista gutenberguiano, sempre preocupado com o futuro dos jornais e das edições impressas no geral, preparou um pequeno guia de iniciação dos jovens na leitura.
Atenção senhores pais:
Escola de machos – A simples iniciação via Hemingway assegura uma cota de testosterona até a madureza. Faz tão bem para o crescimento quanto Calcigenol ou óleo de fígado de bacalhau.
Vocês, pais e mestres, se orgulharão quando o pirralho sair por ai fisgando trutas, caçando pacas, tatus… mirando em rolas, codornas e juritis.
A importância de ler Wilde- A simples iniciação pelo inventor de Dorian Gray garante que o seu filho dê em um homem sensível. Sim, há o risco do metrossexualismo, mas vale a pena. O volume “O Fantasma de Canterville”, para meninos e meninas, é o indicado à guisa de debut.
Lição de anatomia – Moby Dick? Vai fazer muito bem. Seu filho crescerá generoso com as mulheres mais cheinhas, as botterinhas, e não cairá nessa fábula das passarelas e suas mulheres ossudas e magérrimas.
Piedade de nós – “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, jamais. Muito menos as choramingas populistas de Charles Dickens. Seus filhos crescerão com peninha da humanidade, capazes de fundar uma ONG a cada bairro, achando que a caridade seja remate de todos os males.
Campos & espaços – Mal sinal quando o pimpolho começa a trocar o legos pela poesia concreta, briquedinhos que se combinam. Não há mamadeira bilaquiana que dê jeito.
Vanguardeiros e malditos – São uns bossais estraga-homens. Mantenha-os fora do alcance das crianças. Eles estão para a literatura assim como os pipoqueiros que passam drogas _esses fabulosos sedutores!_ estão para as portas dos colégios.
Catecismo e primeira comunhão – Se Deus não existe, tudo é permitido. Quer segurar o capetinha nas rédeas morais possíveis, aí incluídas as algemas forjadas no aço da culpa? Karamazov nele, como quem dá remédio forçado.
O medo diante da loba- Quer estragar sua filha querida e a vida dos futuros genros? Libere Clarice Lispector logo na pré-adolescência. Aí teremos moças misteriosas, labirínticas, metalingüísticas, uns diabos arredias e estranhas diante do amor. Capazes de tudo: TPMs elípticas, menstruações de incomunicabilidades sem fim, coitados desses futuros maridos que terão que aguentá-las.

Dica do Chicco Sal