quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Redenção



Eu me perguntei
Como pude deixar isso acontecer.
Percebi...
Eu estava sentindo falta de algo
Alguma coisa prometida
Algo tão importante
Uma mão na minha
Dedos perto da minha testa,
Forte, frio, movendo-se
Fazendo-me plena, consistente, pura.
Todo o divino entrando em mim,
Fazendo abrir-me.
Estava sentindo falta de algo.
-Alguma coisa prometida
-Alguma coisa livre.
-Uma mão na minha.
-Eu sei sobre corpos deitados.
Deitar com um homem e levar a ele toda a minha carne.
E alguns dos meus prazeres foram tomados.
Completo, ansioso, molhado,
Como eu fico algumas vezes.
Estava sentindo falta de algo.
-Uma mão na minha.
- Não é minha mãe. Abraçou-me bem firme dizendo que seria sua menina.
-Não é uma mão no peito e na barriga.
Uma mão na minha.
A santidade de mim libertada.
-Uma noite fiquei acordada
Andando pelo piso do meu apartamento
Gritando, chorando
O fantasma de outra mulher
Que perdeu o que também perdi.
Eu queria saltar para fora dos meus ossos
Livrar-me de mim mesma.
Deixar-me sozinha e voar com o vento.
Era muito.
Eu caí em um entorpecimento
Até só conseguir ver árvores.
Me pegue em seus ramos,
Abrace-me com a brisa
Faça-me o orvalho do amanhecer
Da refrescante madrugada.
O sol
Me envolve
Espalhando luz rosa em todos os lugares
E o céu acima de mim
Como um milhão de homens.
Eu estava com frio...
Eu estava pegando fogo...
Uma criança tecendo infinitas peças de vestuário
Para a lua
Com as minhas lágrimas
Eu encontrei Deus em mim
E eu a amava intensamente.

(For Colored Girls, ‘Para garotas negras que já pensaram em suicídio’, depoimento de Crystal, cujo marido jogou os dois filhos do casal pela janela, matando-os, com algumas frases de outras mulheres inseridas no diálogo)

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Redenção



Eu me perguntei
Como pude deixar isso acontecer.
Percebi...
Eu estava sentindo falta de algo
Alguma coisa prometida
Algo tão importante
Uma mão na minha
Dedos perto da minha testa,
Forte, frio, movendo-se
Fazendo-me plena, consistente, pura.
Todo o divino entrando em mim,
Fazendo abrir-me.
Estava sentindo falta de algo.
-Alguma coisa prometida
-Alguma coisa livre.
-Uma mão na minha.
-Eu sei sobre corpos deitados.
Deitar com um homem e levar a ele toda a minha carne.
E alguns dos meus prazeres foram tomados.
Completo, ansioso, molhado,
Como eu fico algumas vezes.
Estava sentindo falta de algo.
-Uma mão na minha.
- Não é minha mãe. Abraçou-me bem firme dizendo que seria sua menina.
-Não é uma mão no peito e na barriga.
Uma mão na minha.
A santidade de mim libertada.
-Uma noite fiquei acordada
Andando pelo piso do meu apartamento
Gritando, chorando
O fantasma de outra mulher
Que perdeu o que também perdi.
Eu queria saltar para fora dos meus ossos
Livrar-me de mim mesma.
Deixar-me sozinha e voar com o vento.
Era muito.
Eu caí em um entorpecimento
Até só conseguir ver árvores.
Me pegue em seus ramos,
Abrace-me com a brisa
Faça-me o orvalho do amanhecer
Da refrescante madrugada.
O sol
Me envolve
Espalhando luz rosa em todos os lugares
E o céu acima de mim
Como um milhão de homens.
Eu estava com frio...
Eu estava pegando fogo...
Uma criança tecendo infinitas peças de vestuário
Para a lua
Com as minhas lágrimas
Eu encontrei Deus em mim
E eu a amava intensamente.

(For Colored Girls, ‘Para garotas negras que já pensaram em suicídio’, depoimento de Crystal, cujo marido jogou os dois filhos do casal pela janela, matando-os, com algumas frases de outras mulheres inseridas no diálogo)